Silêncio Com Dedicatória

Ainda que não saibas da existência disto e que simploriamente é dedicado a você, ainda que chova, que faça sol, ainda que eu chore, ria, fique triste; ainda que não te ligue, não me ligue e deguste somente tua face através das fotos em uma das tentativas desajeitadas de poder sentir, ouvir e tocar, não esqueça. Não ouse um só momento esquecer. (...) De mim, de nós, daquilo que te dedico silenciosamente todo dia. A inquietude, a ociosidade, o pensar e o agir. Todos os sentimentos são leves ou pesadamente analisados. Quero, mas não tenho coragem. Sinto, mas não posso me iludir. Ouço, ainda que esteja surdo. A contradição, principalmente de ideias, pode prejudicar, mas a pior das sensações é aquela que te imobiliza na razão da certeza, na certeza da razão e na incapacidade de ser você próprio. Somos livres, mas ainda assim, somos covardes. Ok!, somos loucos e até a própria Constituição nos dá seguridade disto. Não adianta apenas cheirar bem, ouvir bonissimamente Tom Jobim ou interpretar possibilidades improváveis nos livros de Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Menotti del Picchia e Vinicius de Morais. Se o fosse, não existiria uma só alma infeliz e sozinha pensando em como suportar tamanha falta de sei lá o quê. Há em cada noite, quente ou fria, alguém interessante abandonado. Entenda isso. Pode parecer sórdido demais, mas, é normal, até, observar os olhos famintos (isso. É exatamente um filme de terror), solitários, marcantes e altamente significativos. Não precisamos beber Tequila ou afins para perceber a situação. É necessário, tão somente, ir ao barzinho da esquina ou, se você preferir, ao do bairro estereotipado. E se fores cético demais, comprove. Esteja disposto à percepção.
Na tentativa ferrenha de não me prolongar nesta conversa, até porque estamos cada vez mais sem tempo que ontem e apressado que hoje, afundo meu rosto no travesseiro e fecho meus olhos tentando frustradamente mediar a mim mesmo. O que consigo imaginar, a partir de então, são somente suicidas saudades.

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Até mais.

Comentários

Muito bom seu texto. Muito mesmo. Me identifiquei.
"Somos livres, mas ainda assim, somos covardes." ;*
Ana Paula disse…
Muito bom, maiquinho!
Mais um texto belo.

Bjs.
AP
Thiago disse…
Mermão, seria capaz de uma loucura, kkkk...

Abrass.
Luiza disse…
This is home!
Bjos.
Jannice Dantas disse…
Passando pra dar e receber notícias. Adorei o texto!
Cristina disse…
Oi! Nossa, como sempre!
Adorei, viu.

Beijão.

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