Outono

Frederico é um homem muito astuto. Já não tem mais tanta incerteza quanto ao futuro. À noite, quando ele deita, provavelmente depois de ouvir alguma coisa muito concreta nos fones conectados ao celular, pensa em múltiplas coisas. Lembra de como foi o dia, passeia por lugares, pessoas.
Frederico não sabe o que é ser amado. Ele já tentou, mas não soube lidar com isso quando descobriu. Esse, aliás, é um problema muito recorrente, hoje em dia. Ele não se limita, mas em sua natureza já o é regrado. É que Frederico tem muitos medos. Medo de viver, medo de se conhecer, de se aceitar, medo. Supõe que só ele tem problemas sérios e que estes sempre tendem a defini-lo. 
Frederico mora longe, lá pelas bandas do Norte do País, onde a terra era fértil e se cultivava principalmente cacau e sonhos, mas ele sabe sobre o valor que a vida tem, sabe o significado das coisas da vida. Frederico, Fred para os mais íntimos, perde tempo pensando em acertar quando na verdade já acertou duas - talvez três - vezes na vida. É um jovem, assim como você, que independentemente da idade, precisa sempre estar buscando novos contos, histórias de vida real. É o "sinta-se vivo" de todo dia.
Frederico não é ingênuo, tolo; sabe o que fazer para ter o que quer, só não sabe gerir, de fato, seus traumas e dores. Tem um ego in-fla-ma-do. Orgulhoso sem razão, espera que os outros o imagine como uma espécie doce de "voz rouca tênue" quando na verdade tem "olhos de tigre, águia..." . Frederico chora escondido, chora por uma dor que é dele e que mais ninguém pode senti-lá - doce engano, eu poderia jurar.
Fred já sabia da sua condição antes mesmo de se esbarrar em mim, sabia o que era, o que queria. Sabia? Sim, mas falhou... . Ele nunca gostou de se enxergar "daquela forma", com "aqueles problemas tão sérios", e eu até entendo, permitindo se enganar mais uma vez. Frederico não é tolo. Certo? Não.
Para ser sincero, e sei que posso ser mais, Fred é muito encanado, preocupado. A opinião da sociedade que o cerca é a maxima venia. Talvez o que as mentes invasivas e falidas pensam a seu respeito sirva de autodefinição e isso me faz temer pela sua própria sanidade. Esquece, quase sempre, que certos amores e paladares são únicos e que por mais que tente, infelizmente, pelos preceitos que cercam sua mente altamente sedutora, não conseguirá de fato ser o que ele mesmo precisa ser: livre. Lamento em grande proporção.
Se eu pudesse dar um conselho a Fred seria: ..... . É, não nasci para conselhos. Perdoem-me.
Se conseguisse me ouvir pediria para me ligar, deixar de ser tolo, pedir ajuda, ficar perto de mim, dizer que me ama, que venha pra casa para ouvirmos Beijos, Blues e Poesia - mas sei que de onde ele é quase impossível ouvir ao meu sussurrado pedido. Seu mundo particular não permitiria.
Ih, rapaz! Como isso não é uma declaração de amor ou afago, preciso concluir dizendo que Frederico é um aprendiz confuso, perdido, que se engana e perde tempo com coisas e lembranças equivocadas. Ele tem muitas qualidades! Anotem aí: sabe ser charmoso. Mulher alguma resistiria, mas Fred, tão querido Fred, não consegue se libertar de si para viver em si - e olha eu lamentando novamente!
Talvez eu fique inerte, talvez eu continue me permitindo, mas sei que mal algum será superior àquele que Frederico me fizera: me deixara partir. Infelizmente.

 ________ * ________

Fred, querido, se ler a esta carta, gostaria de dizer que você não precisa ter razão, ser forte ou mesmo másculo. Você só precisa ser coerente, viril e ter algumas boas histórias de vida. Eu gostaria que soubesse que descobri seu segredo e que eu o guardarei como guardo meu amor, a sete chaves, a fortes e duras tempestades. Sei que é outubro, nesse período do ano chove bastante por aí, não é mesmo? Não se preocupe, você está bem guardado, você trouxe paz e concedeu amor. Essas coisas a gente não esquece, nem têm motivos, na verdade. A gente só guarda, se liberta e vai viver a vida feliz. Eu me vejo em algum lugar do meu futuro ao seu lado (pode ser otimismo) e essa ideia me faz menos hipócrita. Eu já te aceitei do jeito que você é, sem medo algum (eu talvez já tenha dito isso, também), então, se ainda der tempo, me encontre naquele mesmo lugar, às 17h, usando apenas seu bom-senso, que é tamanho, e seus defeitos. Ah! E antes que me pergunte, sim, eu os aceito como um dia já te aceitei sem motivo algum aparente. Você me aceita? Apenas não se atrase.

Até breve, Fred.

Ass.: Sua amiga incontestável, sua maior virtude, sua razão.

Comentários

R. R. F. disse…
Nossa! Como este texto me emocionou, pode não ter nascido para conselhos mas sabe utilizar outros meios para atingir tal objetivo. Sabe, como lindas são as palavras e ficam ainda mais lindas quando alguém as utiliza de forma harmônica. Parabéns Maicon, isso me fez refletir. Obrigado! Te admiro e sempre vou te admirar.. Fique bem, onde quer que você esteja! Um beijo.

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