Lide Com Meu Batom Vermelho

Adolfo tinha ideias normais. Adolfo vivia a sua própria época. Não ligava muito para valores retrógrados ou defasados. Adalfo acredita que valores são sim mutáveis ou aprimoráveis.
Branco, de olhos negros, Adolfo valorizava coisas e pessoas. Não fazia sentido segregar valores - nem tampouco pessoas. Adolfo era gay e isso era tão apenas mais uma informação sobre sua pessoa. Na maioria das vezes, é claro, sucumbia a vontade da sua pele, carne, sonhos e coração. Adolfo tinha consciência de que desejo e amor poderiam coadunar, viver juntos, e que vontades (leiam-se, desejos) não são suficientes. Adolfo não apreciava prolixos emocionais. Ele apenas se calava, fazia sua parte e acreditava em dias melhores.
De poucos amigos, Adolfo era prudente. Odiaria ter sua sexualidade exposta. Não porque tinha vergonha, mas porque sustentava pavor do desnecessário.
Aquele jovem garoto de quase 30 anos apaixonou-se por si e como consequência, redescobriu a paixão mútua e não oposta. Os opostos se atraem, os iguais também - "e como, Adolfo"!
Era domingo e o rapaz de pele visivelmente bem cuidada precisou de um abraço. Em troca, agarrou sua mão e saiu, meio a toda naquela satírica tarde ensolarada e ventilada, em câmera lenta, porque Adolfo gosta de produções simples e marcantes, rumo à vida (leiam-se, suas próprias vidas).
Adolfo nunca mais esqueceu daquele dia, daquele jantar. Não porque fugira da dieta, mas porque redescobrira o prazer, a pele, o gosto, amor e o significado de estar vivo e bem. Assustadoramente bem. Irrestivelmente adorável e feliz.
Com lábios vermelhos de tinta-felicidade, Adolfo foi ser pleno. E que beijos. E que boca. "E que desejo, Adolfo"!

Adolfo decide viver.

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