Quod Plerumque Accidit

As pessoas possuem deficiências em inúmeras searas da vida. Essa limitação agrava-se, consideravelmente, quando o assunto envolve "saber lidar com as diferenças". O que mais observo, diariamente, nas diversas relações, é intolerância. Intolerância com o jeito que você se comunica e enxerga o mundo. O simples fato de você pensar de modo não convencional, sob a ótica dos valores tidos como tradicionais, é suficiente para intrigas, rupturas, críticas destrutivas. Há aqueles, vejam só, que preferem justificar seu mal-caráter na personalidade que lhes falta. Está todo mundo impondo garganta abaixo, aquilo que julga adequado ou razoável. Nas escolas, e por estas bandas sempre foi assim, ensina-se Química, Matemática, Geografia, História. Há aqueles que se atrevem a ensinar ética e etiqueta, mas, infelizmente, não conseguem fazer entender que geograficamente o átomo que circunda minha vida não necessariamente detém da mesma consistência que o átomo que circunda a sua. Intolerância com o seu jeito de ser, com sua forma de agir e encarar as situações. Uma tragedia sem precedentes. 
Há regras para se portar, vestir, lidar com outras pessoas. Regras essas que transcendem o que dita a boa convivência e o respeito mútuo. Aliás, há uma invasão da parte de todo mundo sobre tudo: "o que você deve ser" e não "o que eu quero ser".
A tolerância não esbarra, tão apenas, no fato de você respeitar "o pensar" de outrem. Ela, sem dúvida, estende-se ao adaptar-se, ao não ser de um jeito e querer mostrar-se de outro em prol do senso comum - quanto tempo desperdiçado!
Eu lamento muito que isso esteja, desde sempre, tão enraizado na essência do ser humano, nas gerações que se findam, fundam. Lamento, ainda, que as pessoas esteja mais preocupadas com o fato de você ser baixo, alto, malhado, heterossexual ou não do que com a prospecção do amor em si. E por quê? E para quê? Na História, jamais registrou-se tanta gente solitária, insatisfeita, mesmo dispondo de tantos "parceiros", "amigos-top" e "rolezinhos".
O fundamento dos extremistas está pautado no amor, na salvação que precisa ser conquistada todo dia, arduamente, naquilo que leem, sem a necessária axiologia dos tempos e das palavras. 
Você sai para ir ao restaurante e lá estão os olhares (literalmente) famintos, esperando você deixar transparecer qualquer significado contrário à vida perfeita, inimaginável; você loga nas redes sociais e lá estão seus amigos, colegas, admiradores, falsos entusiastas, juristas e julgadores quietos, calados como um nascituro na primeira semana de concepção, prontos para um duvidoso "que linda, amiga!" como forma da não personalização de sua entediante (mas invejável, é claro) vida bem-afeiçoada, projetada.
O fato é que as pessoas ouviram que podem ditar como os outros precisam ser e, lamentavelmente, acreditaram nessa piada de mau gosto. Leis, tratados, regimentos... isso tudo é apenas mais uma referência de como a moralidade e o respeito devem ser elementares nas relações interpessoais.
Eu não devo ter vivido muito para dizer que nunca na humanidade, viu-se tanto palpite e retrogradação acerca do limite tênue existente entre "você ser quem você é" e "o respeito para com o que você não gostaria de ser", mas, honestamente, é o que parece de fato existir. 
É óbvio que não cabe a mim ditar como você deve se portar; meu dever aqui, enquanto cidadão e ser humano, é transmitir amor, alegria e tentar respeitar sem a necessidade intrínseca de juízo de valor algum, as inúmeras ideologias, formas de ser e não ser. 
Não está fácil viver em épocas assim, mas seria possível dirimir a dor daqueles que sofrem silenciados pela opressão, apenas acolhendo, equiparando-se e, fundamentalmente, respeitando.


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