O Segredo De Luíz Spevea

A Continuação de 'A Mentira'
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“...Quando também um homem se deitar com outro homem como com mulher, ambos fizeram abominação e certamente morrerão...”

LV. 20.13


Os pensamentos me assolavam enquanto pensava essas coisas cheias de causalidade e totalmente decepcionantes. Ali mesmo, naquela praça, onde estava, podia sentir o cheiro amadeirado das lembranças ferrenhas que me machucaram. Não posso pensar em como seria a minha história se tudo o que aconteceu comigo, não tivesse um pingo de nexo. Afinal, eu mesmo procurei esse fim.
- Luíz, vamos? - era Ana, uma garota que eu estara namorando.
- Vamos, claro, estamos atrasados, a sessão já deve ter começado - disse meio sem entusiasmo.
Ana Maria costumava me buscar na praça, às vezes. Achava até bom. Assim, eu me desprendia dos devaneios enlouquecedores. Embora perguntasse, não o suficiente para ser mal-educada, nunca falei sobre o que me levava de fato a tal lugar todos os dias frios, chuvosos e desmotivantes. Hoje, faz seis anos que não o vejo, mas ainda posso sentir o humor de suas piadas totalmente desprovidas de inteligência. Parece que foi ontem. Parece.



Indicação

No consultório, sempre chegava meia hora antes das consultas para olhar as correspondências e outras coisas junto à secretária. Certo dia, tinha um envelope preto com dourado sobre a mesa e aquilo me chamou atenção. Convites solenes, talvez, como todos os outros de que eu abdiquei.

Dr. Luiz Spevea.

É com muita honra que notificamos Vossa Senhoria, acerca da indicação ao prêmio Psiquiatra Do Ano, sob o número de inscrição 378-3. Avaliamos seus méritos e contribuições para com a sociedade como um todo. A equipe de profissionais (médico, psicólogo, psiquiatra e jornalista) estima boa sorte.

Fiquei pasmo. Como podia me prestar a isso? Existem muitos profissionais bons aqui. Além do mais, os nomes dos concorrentes eram simplesmente conhecidos no mundo inteiro.
- Ok, sem chance - sussurrei.
Muitos telefonemas sucederam a descoberta da indicação. Percebi que a maioria era para instigar alguma coisa. Eu poderia recusar se quisesse, mas sem falsas modéstias, acredito que vou tentar. Não custa nada. Ganhando ou não, as pessoas vão ouvir mais sobre Luíz Spevea. Isso seria bom pra qualquer profissional.
Na noite daquele mesmo dia, Ana decidiu sair para comemorar. Não via motivos, sinceramente, suficientes. A premiação ocorrerá daqui a um mês e eu nem sabia se ia ganhar tamanho mérito. Mas, tudo bem, o que há de errado em beber um pouco com amigos e namorada em um pub?
O lugar era bonito, meio melancólico, mas bacana! Sílvio, Charlotte, Alice, Carlos, John, Fernando e Ana faziam a festa enquanto eu ria dos seus comentários sobre uma mulher meio sem jeito que estava no salão. A moça era engraçada e os homens faziam cara de deboche quando se aproximava. Coitada, sabia o que estava sentindo naquele momento. Era assustador como ela era animada, e eu também sabia que isso era um tipo de deficiência psíquica. Queria pode ajudá-la, mas poderia parecer ‘são’ demais. Ela dançava estranho, dança digna de todas as atenções.
- Meu Deus! - resmungou Sílvio - A maluca parece estar bêbada demais para curtir alguma coisa. Senti a malícia na voz dele, mas não me importei muito.

Eu olhava atônito seus movimentos quando percebi que ela tinha caído ao chão, meio infeliz demais para o que acabara de fazer. Corri para levantá-la e Ana não gostou muito. Certamente me reprovaria sem exagero, mas não podia deixá-la caída enquanto as vozes que ali estavam, riam desmedidamente.
- Você está bem? - perguntei meio com receio, acreditando piamente numa resposta áspera.
- Não - respondeu - Eu não estou bem, no fundo do poço e sem mais para cavar - completou quase muda - Me tira daqui.
Levantei-a sem um pingo de esforço já que os anos de academia me serviam, naquele exato momento, algo mais do que o tesão alheio implícito. Lá fora, entreguei um cartão com o endereço do meu consultório e chamei um táxi.
- Será melhor você ir para casa e descansar, agora. Procure-me neste endereço - hesitei um pouco quando ela tentou me beijar a força.
A noite, pra mim, já estava de bom tamanho. Não queria mais correr o risco de ter de aturar quaisquer comentários mal-educados e mulheres deprimidas. Ana parecia meio confusa, mas não fez nenhum questionamento acerca disso tudo. Uma coisa boa. Assim, eu poderia dormir em paz.



13 De Abril De 2014, Ainda À Noite

Havia uma coisa meio incomum em mim. Estava alegre, muito alegre. Sentia uma vontade imensa de ser feliz, depois de todos aqueles sentimentos, de horas antes, logo cedo. Queria esquecer os problemas e encarar a minha vida de uma forma nua, crua e verdadeira. Sabia que para isso, a primeira coisa que tinha de fazer era contar toda a minha história à Ana. Certamente, não entenderia. Eu gostava dela, não podia enganá-la tanto assim, sua companhia era agradável. O fato de ser objetiva com seus sentimentos e com sua vida, era bom. Tudo mais simples, e, cobranças naquele momento não seriam bem-vindas. Não mesmo. Estava decidido a contar tudo.
Tinha mais de sessenta pacientes, naquele dia, para atender. E isso era bom. Eram tantas histórias engraçadas, sérias e tristes que nem percebi a hora passar. A psiquiatria é realmente a minha vida. Entender a alma das pessoas destruídas era muito bom. Não havia beleza mais significante de um rosto sincero que, embora cheio de dor, estava mais leve, sensível, estava mais ansioso por vida, por esperança. Era como se tudo recomeçasse: o modo como se deveria encarar o mundo parecia ter mais sentido e beleza. Eu jamais poderia esquecer de uma paciente, portadora do vírus da Hepatite B. Ela parecia estar sofrendo tanto (e, de forma lógica, com razão) que não conseguia se expressar. Tremia de vergonha, de fraqueza, tudo aquilo representava o fim pra ela. Sua história não era nada de excepcional, apenas tinha um fim mais diferente e doloroso. O marido a traiu, adquiriu a doença e a repassou. Nada que a culpasse severamente. A culpa não era dela, mas isso a martirizava de uma forma doentia e penosa. Dei meu diagnóstico, mas tentei explicar que jamais estaria liberta se não desse a si própria a oportunidade de tentar ser feliz. Perdoar é essencialmente importante para a alma. Isso muito engrandece o ser humano, talvez porque seja difícil perdoar. Não creio que adiantou muito.
- De qualquer modo, fico à sua disposição - falei.
- Tudo bem, doutor - disse-me triste - Vou tentar não perturbá-lo!
- Acredite, o que para você pode ser uma perturbação, para mim é um dever. Não hesite, se precisar, ligue. Prometo não me chatear - conclui.
Agora tinha apenas um paciente. Pedi um tempo à minha secretária Jhuly. Precisava fazer uns telefonemas e beber uma água, coisa peculiar do dia-a-dia. Pode não parecer, mas nós psiquiatras, ficamos tão péssimo quanto o paciente. Sabia que isso poderia ser ruim pra mim, enquanto profissional, mas não podia ser duro e fingir uma pseudo-fortaleza. Enquanto falava com um colega de profissão, ao telefone, lembrava da última paciente.

- Senhorita Jhuly, por gentileza, o próximo paciente.
Foi aí que me dei conta de que estava sonhando. Estava?



A Noite Do Dia Perfeito

Meus olhos faiscaram, minha cabeça rodou e mais uma vez as reminiscências constantes estavam devastando o pouco que sobrou de mim durante esse tempo que Estevão se fora. Meu corpo enrijeceu e minha nuca pesou. Eu não podia acreditar naquilo que via. Não, não e não...

Devaneio: 23 de novembro de 2008.
No aeroporto, na clínica, na solidão, em casa, na praça... A carta. Eu ainda podia ouvir a voz de Estevão lendo no meu inconsciente aquela carta, naquela noite:

Alguém um dia me disse que o amor tem sim cheiro, tem sim face e tem sim razão. Eu espero que você vença suas próprias incapacidades e se torne uma pessoa ainda mais digna.”

- Estevão? - Perguntei sem me sentir.
- Sim, disse-me uma voz estranha.
- Mas, você, o avião...
- O senhor conhece meu filho, doutor?perguntou-me, a mesma senhora.
- Sim, mas, o que ele... O que é isso?estava incrédulo e desesperado demais, ao colocar minhas mãos no rosto.
- Ele estava no voo 736, naquela noite.
- O quê? Minha senhora, o que está acontecendo? - perguntei me sentindo um completo maluco convicto de que estava sonhando.
- Estevão estava naquele avião, mas sobreviveu. Ele e mais três passageiros, na verdade. O avião caiu – Sei minha senhora, sei como e onde exatamente o avião caiu e sei também que ele não sobreviveu interrompi asperamente. Ela abaixou a cabeça e começou a narrar uma história que meus ouvidos imploravam para ouvir.
- Duas semanas se passaram e nós, os familiares, estávamos desesperados. A maioria dos corpos que estavam naquele voo foi encontrada, somente uns cinco ainda estavam desaparecidos. Quando soubemos, aflitos, que três pessoas estavam com vida, fomos no mesmo dia à cidade mais próxima do local do acidente e através de alguns profissionais, bombeiros, policiais e médicos, chegamos ao hospital que os sobreviventes estavam. Quando vi que o meu Estevão estava ali, diante dos meus olhos, não tive reação, apenas apaguei sem acreditar. Apaguei, claro, de felicidadeterminou de falar com os olhos cheios de lágrimas. Estevão estava sentado meio despreocupado com o assunto.
- Mas, eu não me recordo de ter visto o nome dele, na lista.
- Claro, e não estava mesmo. Eu lembrei que um dia antes Estevão tinha me ligado e falado alguma coisa sobre fugir, refugiar e pensei que, talvez, ele pudesse estar encrencado aqui, no Brasil. Foi aí que pedi para os médicos não divulgarem o nome dele porque seria melhor que a família fosse poupada de telefonemos e lembranças melancólicas, algo assim, não lembro ao certo.
Você é a tia dele?
perguntei
Ela riu e disse: - Não, sou a mãe dele. Costumava me chamar de ‘Tia’. Dizia ele que eu não tinha cara de mãe. Era muito nova.
Sabia que sua família morava em Portugal, mas nunca tinha me falado da sua mãe. Parecia um assunto meio desconfortável, pra ele. Ela parecia tão devota ao filho.

- Mas, por que somente agora eleinterrompi balançando a cabeça sem acreditar naquilo tudoÉ tão assustador, sussurrei.
- Sim, é assustadorela me respondeu - O mundo é mesmo muito pequeno. Veja só, você conhece meu filho, meu único filho. Agora eu sei por que meu coração pedia pra vir aqui. Fazia tempo que tentava, mas sempre há muita gente na lista e a secretária falava que não estava mais marcando consultas, até um determinado período muito grande, e eu acabava desistindo.
- Sim, claro, muita gente, falei.
O silêncio pairou na sala e eu pude me levantar. Estava surtando, tinha certeza. Fui devagar, sem tirar meus olhos dos dele, toquei em seu rosto e pude sentir o mesmo calor, a mesma sensação de alguns anos. Foi maravilhoso sentir aquilo tudo, mesmo percebendo a frieza que transparecia em sua face.
- Meu Deus!ExclameiÉ você mesmo. Com o rosto molhado, eu não conseguia me conter.
Seu braço direito se ergueu e lentamente retirou a minha mão do seu ombro esquerdo. Não conseguia ler a sua expressão, era codificada.
- Desculpa – a mesma voz disse - Estevão sofre de um problema sério e peculiar. Ele tem um trauma por consequência do acidente. Teve um corte muito grande na cabeça que afetou o cérebro. Devido um coágulo que sucedeu os fatos, ele desenvolveu uma sequela. Jamais se lembrou de nada que antecedeu aquele dia. Alguns lapsos, nada muito claro. Há também, uma deficiência no braço esquerdo. Não consegue movimentá-lo facilmente. A família é a única coisa que sobrou na memória.
Eu estava indignado demais para poder acreditar naquilo tudo, foi como se meu mundo ainda tivesse uma chance, era como se a vida estivesse me dando uma última oportunidade.
Ele me olhou com uma expressão morta e isso foi, simplesmente, insuportável.
- Eu esperei você o tempo todo - disse quase mudo.
- Oi? Perguntou-me.
- Você sabe quem eu sou, Estevão?
- Claro. Você é médico. O médico dos jornais. Meus olhos focaram seus gestos, seu jeito de falar e agir. Assustado. Estava muito assustado e não queria acreditar que Estevão, a pessoa mais importante da minha vida, estava ali na minha frente sem lembrar ao menos quem eu era, o que representava.
- Viemos aqui por indicação do doutor Alex. Falou muito bem das suas qualidades e espero que nos ajude – sua mãe quis distorcer a situação. Acredito que percebeu alguma coisa diferente. Assenti, somente.
- Claro, falei logo em seguida sem muita euforia.
Sua mãe era simpática e, como ele, muito educada. Uns 35 anos, talvez. Estava tão triste com a história do filho quanto eu, naquele momento. Minhas lembranças... Ah, como eu não queria tê-las. Elas estavam me sufocando. A minha vontade era correr daquele lugar e me trancar. Chorar? Não, isso não resolveria. - Inacreditávelarquejei mais uma vez.
Acomodei-os e solicitei uma água.
Enquanto ela me contava o que aconteceu exatamente, comecei a pensar um pouco em tudo que ia me acontecer nos próximos meses e confesso, estava mais feliz que o necessário. Cuidar dele. Era assim que pretendia terminar os dias. Não havia prazer melhor, amor maior, instante melhor. Não havia.
Ele parecia normal, apenas mais vago, sem muito conteúdo. Que desespero. O que fazer agora
. O que fazer...
- Depois que o médico levou o diagnóstico, tentamos trazer alguma lembrança muito forte que pudesse ajudá-lo na recuperação. Tudo, até então, foi em vão. Muito consultório, sofrimento, grupo de apoio e tantos outros métodos foram tentados com muitas frustrações. O sorriso sem-graça nada era incomum, pra mim. Já o vira algumas vezes, no passado. Era o mesmo de Estevão.
- Ah, doutor, lemos em todos os jornais. Boa sorte hoje à noite. Estamos torcendo.
- Mãe?a voz dele era alegre e entusiasmaste novamente.
- Issoeu o olhei rapidamente Boa sorte - ele riu.
- Li nos jornais sobre sua trajetória e acho mesmo que você merece ganhar.
Eu só o fitava fixamente com olhos de ressaca não iguais aos da personagem, de Machado de Assis, mas com a mesma intensidade, talvez.
- Estevão, você não gostaria de ir à festa de premiação comigo? Já que leu tanto sobre mim, acredito que lhe devo essa. Não vejo mal algum, será bom passear, conversar um pouco. Que tal? Sua mãe me olhou e instintivamente respondeu: - Não acho que será necessário, doutor, ele pode causar algum transtorno.
- Estevão? Perguntei.
- Sim, sim, eu adoraria poder ir. Não sou nenhum deficiente drasticamente prejudicado, nem perneta eu sou, ora. - O humor de sempre, sussurrei.

- Claro. Sem drásticas deficiências - eu disse. - E então?
- Mãe?interrogouPosso ir? Antes que ela respondesse, falei que preocupações seriam desnecessárias.
-Tudo bem, Estevão, mas prometa que vai me levar um autógrafo do ‘Psiquiatra do Ano!’ Risos simpáticos, encheram à sala.
Queria abraçá-lo, saber dele, de nós. Que dor é essa que toma conta de mim? O ser perfeito. Seus olhos azuis, faziam-me viajar nas lembranças. Sua pele clara e suas sobrancelhas escuras, completavam a temperança que era tê-lo de volta em minha vida.
Enquanto anotava o endereço, podia sentir o calor de suas mãos, do seu corpo. Sim, claro, que se danem os outros, os pensamentos, as ideologias. Eu não posso deixar escapar a única gota de esperança que me resta.
Enquanto levantavam, fingia olhar uns papéis sobre à mesa. Ele estava indo embora e eu não podia fazer nada. Sabia que mais tarde iria encontrá-lo para irmos à festa de premiação, mas ainda assim foi inevitável não sentir a dor da perda novamente. Levantei e abri a porta, desejando-lhes bom fim de tarde. Seus olhos me encaravam como se quisesse falar alguma coisa, mas tinha medo.
- Até mais tardemurmurei.
- Érespondeu baixo, também.
Tranquei a porta e não aguentei. O desespero me assuntava e minhas pernas falharam. Então cai. Meus olhos suplicaram soluções e explicações. Nada era trazido às minhas indagações. Um sofrimento tão intenso que não poderia me dar ao luxo de pensar em premiação, festa ou quaisquer coisas que não diziam respeito a Estevão. Meu coração doía e eu não respirava bem.
Assim como em todas as datas que representavam algum valor, fui à praça do centro pensar um pouco sobre ele, sobre o que poderia me ocorrer à noite, naquele salão com milhares de pessoas desconfortavelmente importantes. Talvez, uma forma de encontrar respostas. São muitas frustrações que me fazem percorrer um lugar sombrio e delicado. O meu 'eu' estava estranho, sem noção de tempo e espaço.
- Estevão trinquei os dentes e falei com a voz arrastadaPor que fez isso comigo? Como pôde sumir e me deixar aqui sozinho?
Eu vi uma sombra perto de mim, fiquei com remorso, claro, já era noite e é certo que poderia ser assaltado. Olhei devagar pra cima e meus olhos não piscaram. Meus dedos encolheram. Minha cabeça, deliberadamente, inclinou-se para a esquerda e os olhos mal podiam enxergar aquele rosto simples, bonito e sincero que me fez encarar o desespero. Era o mesmo sorriso fraco, meio torto.
- Porque o que sinto por você vai além daquilo que um dia pensei em sentir por alguém. Quando aquele avião caiu, eu só pensava em você. Nada mais me preocupava. Não tem consciência do que era pra mim, observá-lo de longe e não poder ir fala, tocar, brigar contigo. Não sabiadisse olhando fixamente pra mim.
- O quê? Você estava escondido o tempo todo? Lembra de mim? Por que está fazendo isso, Estevão? O jogo acabou!– franzi o cenho.
- Não. Eu só lembrei de você e dos acontecimentos recentes antes ao acidente, há poucos meses. Sabia que esta praça era importante pra mim, mas não tinha noção do por quê. Ah, Luíz, você não sabe o que foi a minha vida nesses últimos seis anos.
- Mas, por que só agora me procurou? Você está arrependido de alguma coisa?- falei meio sórdido. Isso pareceu penoso e humilhante demais.
- Eu poderia muito bem explicar tudo, utilizando argumentos convincentes com você, mas não temos tempo, lembra? Olhou para o relógio e eu me levantei do banco daquela praça.
- Claro, o festa!exclamei. - Ainda tenho de pegar Ana que deve estar mais ansiosa que eu.
- Ana?perguntou decepcionado.
- Sim, você vai gostar de conhecê-la, mas não se preocupe. Não há motivos para preocupações. Só pude sentir seu braço direito me puxando, já que o outro estara comprometido. Eu não sabia até onde tudo aquilo era verdade, mas não queria pensar numa possível surrealidade. Eu o abracei com tanta intensidade que foi preciso começar a chover para poder cair na realidade.
- Vá, cuidegritou me soltando do seu corpo.
- Daqui a pouco, duas hora, talvez, eu te pego em casa, como o combinadodisse andando torto e rindo de felicidade. Era como se tudo continuasse de onde pensei ter terminado. Ainda pensava numa forjada irrealidade; no máximo, um sonho. Nada mais.



A Premiação
‘Pérolas cobertas de amor e entusiasmo que me instigavam sem querer sentir a dor de poder fracassar. ’


09h 20min
- Luíz? Luíz? Vamos seu preguiçoso, acorde! Hoje é seu dia. O seu grande...


Era Ana. Ela não morava comigo, mas sua presença era constante lá em casa. Estava totalmente decepcionado mais uma vez com a realidade. Um sonho. Diferente dos anteriores, cheio de detalhes, minúcias, é claro, mas um sonho. Aquele era o dia do concurso que poderia me dá o mérito de “Psiquiatra do Ano”. Um frio na barriga sucedeu meus pensamentos e o primeiro instante da data começara triste e frustrado, ainda que com muitas expectativas.


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Uma Necessária Bisbilhotada Na Continuação de A Mentira, O Segredo de Luíz Spevea.

Está frio, nublado e intensamente calmo, lá fora. Olhando pela janela, vejo que o silêncio incomodava até mesmo os pássaros sem cânticos nada ensolarados ou desanimados. Foi assim, que o dia começou. Era possível observar melhor e embora eu tivesse acreditado seriamente na possibilidade de vencer aquele concurso, não estava mais ali, naquele momento. Flashes de memória me assustaram. Parecia uma Experiência de Quase Morte, que um dia eu já havia sentido na dor incomensurável que meu coração não suportava mais. NÃO! Não está chovendo e nem serenando aqui dentro; são lágrimas que escorreram dos meus olhos, demasiadamente opacas e sem um pingo de esperança. Era a saudade. Sabia que estava daquele jeito por ter sonhado mais uma vez com o sorriso enobrecedor de Estevão. Que injusto. Não estava feliz, eu não tinha motivos para comemorar. Era, mais uma vez, só um devaneio insciente.

Todas as coisas que eu pensara estavam ali, diante das minhas percepções. Nada, quanto ao que me fascinava, era mais importante, inerente, coerente. Aliás, fascinação?
Às pessoas, ou pelo menos boa parte dos medíocres, pensam que para ser feliz basta ter uma casinha, uma mulher, um marido e filhos. Sabe, às vezes fico imaginando como seria se tivesse entendido o sentido das coisas precocemente. É tão piegas ouvir isso, era o que mais tinha no consultório. O que tem demais em ser diferente, o que tem demais na anormalidade que tanto assombra e indigna os indivíduos? Estou só. Não posso negar. Hoje, tantos anos depois daquele acontecimento trágico, estou 'somente' disperso como minhas idéias.

- Luíz gritou mais uma vez AnaTem correspondência pra você ... Huuumm, está assinada por um tal de... Estevão Spevea, conhece? Ainda estava no quarto, quando ela falou isso. Virei para a porta e, confesso, estremeci. Meus olhos encurtaram-se e minha cabeça enrijeceu, mas não chorei, não ri, não cai; aquilo não era mais o sonho da noite anterior. Eu estava acordado e convicto o suficiente para pensar assim.


Comentários

Anônimo disse…
Hanram, já sei!
Tá querendo me botar doida, sabia!!! Jesus do céu, A-D-O-R-E-I!
Thaisa Lima disse…
brigda por passar no meu blog..le ele sim vc vai gostar

bjaum
Anônimo disse…
Ah, tais brincando! Isso é uma série éh? Rapaz, tá muito é boa, oh...
Anônimo disse…
Eu tô começando a odiar Estevão! Alguma coisa me diz que ele não presta! Intrigante.

Bjaum!
Anônimo disse…
ai, ai, ai...Acho q ja sei o segredo do ESTEVÃO, ele é UM FANTASMA q veio pra assombrar o luiz!!
hihihihi

TÔ ADORANDO ESSA HISTÓRIA!
Annie Manuela disse…
Oi Maicon, gostei muito do seu blog.
Vou te visitar mais vezes.
Bjks.
Anônimo disse…
Conversaremos baixinho! Eu vou te subornar, me aguarde.

Bjos, gatenho, tá muuuuito bom isso tudo.
W.Lima disse…
Sou teu fã. Tu sabe!

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