Quando Nietzsche Chorou
Árvores desfolhavam feito cólera no jardim. Pedaços de rosas não cabiam dentro de um buquê. O sol ardia e mútuas palavras caíam inconscientemente. Começou a chover e o presságio deu-se apenas por satisfeito. Convulsões de emoção tomavam conta do coração como se fosse a última vez que pisara no chão firme que tanto lhe dava proporção. Doía ter que deixar o controle das coisas possíveis às mãos de quem nem sabia o que queria. Choros agonizantes, queimavam ao proferir 'como fui feliz', 'como deveria ter dito', 'como queria estar lá'; e, às pessoas daquele tormento: 'saudade de todos vocês'. A chuva ainda era forte e a luz das casas habitadas já havia se extinguido há horas. As dores não passaram e o lamento resultou-se em desespero fortuito, sincero e calado como se fosse um surdo-mudo analfabeto. As linguagens se confundiam e a vontade de encontrar no último suspiro a razão de ter existido, era maquiavélico, duradouro e úmido. Quando Nietzsche havia chorado, pétalas de rosas já não tinham os mesmos significados; amores, já eram o bastante e sonhos nem existiam numa civilização tão miserável de percepção. Bastou uma gota daquela chuva para devastar o que ainda restara de bonito no mundo. E o mundo era ele. Frustrações, desejos, ódios e hostilidades. Existiam vários mundos assim, mas quando Nietzsche chorou, restou o nada como forma de absolvição do lindo pecado que é viver. Uma única gota. Um único sentimento de solidão. Mas, existia um paradoxo em não existir solidão e Nietzsche. Uma única lágrima bastou para que os sonhos se desvairassem feito bala de morango na boca de uma criança bem-amada. Não nos deram a dimensão dessa grande catástrofe. Maniqueístas propagaram uma piscadela e tudo se apagou. Feito chama acesa, o mundo se foi e Nietzsche não poderia mais chorar por falta de opção e egoísmo... Nietzsche havia chorado; já o mundo... . E não fora por falta de opção e egoísmo.
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Até mais, queridos.
Comentários
:*
Muito bom.
Muito bom.
Ah, o filme é muito bom msm.
bjx.