Jornais, Figuras E Um Pouco De Metonímia
A vida é triste. A vida é um porre. Mas se é triste, como pode ser um porre? Tudo que você pode fazer é o que você deve fazer. Você faz o que tem que fazer e faz bem-feito. Quantas vezes mesmo eu já ouvi isso? Mas, cá entre nós, o que é fazer bem-feito?
O grande escândalo é a solidão. E mais escandaloso ainda é dor que não sai no jornal. "É aquilo que não se vê, que não se lê, que se compra", já dizia Pedro Bial. E a responsabilidade neste caso é completamente objetiva. Um homicídio triplamente qualificado. Um infanticídio. Um latrocínio cuja autoria é desconhecida.
As figuras manjadas do meu gibi, começaram a perder a tinta. Talvez, essa tenha sido apenas a forma mais educada que o tempo conseguiu arrumar para me contar que eu não sou mais o mesmo. Ou não. Ou talvez seja apenas neurose minha. Neu-ro-se. Que coisa chata essa mania que a gente tem de querer estar vivo.
E cadê? Cadê quem nos faz amargar dores sem antídotos? Cadê quem faz o dia mais cinzento brilhar com um sol possível de carinho? Quem mora na nossa cabeça como um ocupante bem-vindo e eterno? Quem nos mostra com todas as letras que não somos nada, que não servimos para nada - além de servir? Quem nos criva de preocupações? Nos rouba uma noite de sono por uma palavra mal-dita, pelo telefone que não toca? Cadê quem nos reapresenta a vida e nos faz ver o mundo como se fosse a primeira vez... de novo?
Não adianta. Tudo é um processo rotativo e cansa. Cansa muito! Todos os anos, sem interrupção, pagamos por crimes prescritíveis, mas inafiançáveis, que sempre nos levarão à mesma prisão, sob o mesmo regime fechado de pena e sem remissões.
Preciso reiterar o pedido de restauração das figurinhas degradadas. E de novo. E mais uma vez. Embora evitável, a gente tenta restaurar as mesmas histórias e sempre com segunda intenções.
Abraço.
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