When The Party's Over


Quando você perceber, já fez 28, já formou na faculdade, já conseguiu o emprego medíocre que faz você estar vivo ou sentir que está cumprindo sua “função social”, acertadamente; já terá que se preocupar ainda mais com a sua pele que não tem mais a mesma aderência/vistosidade e seu armário, no banheiro, terá mais antissinais do que a prateleira da Dermage.
Quando você viu, os dias já se passaram, o comodismo já se instaurou e os sonhos passaram a ser inferiores  à procrastinação. 
Quando você observou, sua vida escorregou pelas mãos, seu amor já foi embora e a altivez já não faz de você um super-homem. 
Quando você parar para observar a verdade, as suas pernas já estarão cansadas e você terá que usar, com mais frequência, qualquer gel relaxante, como faziam seus avós. As perspectivas já foram adaptadas ao nada e a paz de querer ser, passou a não fazer sentido.
Fazer sentido. Você também, com o tempo, passa a fazer menos sentido, a ter menos razão de ser.
Não te ensinam que esse processo pode ser peculiar, mas, ainda assim, desastroso. 
Quando você perceber, já terá que tomar remédio para dormir, para se sentir vivo e anestesiado. Ambíguo. Sim, você, também, será ambíguo. 
Quando você notar, a dor de ser quem você escolheu ser, já terá te sufocado - e isto é rotineiro, a vida e a repetição do clico profanamente desastroso, que é estar em mundo tão contraditório, já se tornou comum. Não se engane. 
Quando você se der conta, mesmo com toda ética e respeito possíveis, já terá se apaixonado pelo irmão ou amigo do seu namorado e terá que lidar com isso em segredo e da maneira mais educada, gentil e sensível possíveis; perceberá que calar é dizer e que dizer é perder tempo. Entenderá que o bom é ruim é que o ruim nem sempre é tão ruim, assim. 
Quando você se der conta, o Instagram perdeu o sentido, o Facebook não existirá mais e o Twitter será mais um diário, de páginas apertas, esquecido pela garota imbecil e inocente.
Quando você parar para pensar, ficar em casa cuidando do jardim já é a tarefa mais prazeroso da sua existência, desde a bebedeira com os amigos, aos 19 anos. 
Quando você perceber, haverá mais compromissos a serem “honrados”, em sua cabeceira, do que livros a serem lidos e isso é ser o que “eles” chamam de “adulto-jovem”. Bem-vindo. Paciência.
Quando você perceber, as circunstâncias passaram. Você existiu. Você se tornou pretérito imperfeito.
Quando você perceber, caro leito: passou. E isso não tem nada a ver com “fechar as cortinas “ - esta é mais uma ideia rídicula que inventaram para te fazer acreditar que você foi/é, essencialmente, indispensável e importante. 

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