Emílio

E aí, depois dela, ficam as lembranças - pervertidas ou não: mas hoje, vamos focar nas perversões.

Com a epidemia, você pode se modificar, enquanto ser mutável e humano. Eu também optei por mudar. Não pensar. Despir os pré-conceitos instalados em mim. 
Você poderia ter, ser e fazer o que quisesse, desde que isso tivesse a mim, a companhia.
A essa altura, não existia rodízio, proibições e medos.

Você deixou, plantou sentimentos extraídos da sua pele, aquilo que mais cheira, dá calor, pinga, faz molhar, faz vidas. Seus músculos retraídos, não muito confortáveis por causa da consciência que, mutuamente, deixava um ruído de desespero, fazia minha alma arrepiar. O entra e sai fálico que, sem esforço algum, trazia a mim, sensação de estar vivo e nítido - como é bom poder conseguir enxergar a si mesmo! Aquelas orações em movimentos, sem dúvida, faziam as dores passadas gritarem de desespero. Corriam como o diabo da cruz. Exorcizadas, esvaíram-se para um lugar qualquer. Eram vozes, sussurros, mordidas, suor e, eu já falei sobre os arrepios? Não havia demônios. Eram anjos semi-deuses. 
A divindade existe e estava ali, comigo, contigo: não só...
Suas pernas sob às minhas, enrijeciam minhas nádegas, meu pênis e meus lábios, simultaneamente, numa nota de Wolfgang Mozart. Aliás, obrigado.
Vislumbrei Deus. Consegui falar com ele. Fui ouvido. Não existia pandemia. Não precisava usar álcool em gel, máscaras e toucas. 
Era bastante em si, aquela sensação única que se sente uma ou,  com sorte, duas vezes, na vida.
Em seu rosto, o sol mais brilhante do dia; no meu, a tempestade mais bonita da noite. Vento frio. Corpos quentes. Você gostava do meu suor e eu não reclamava daquele líquido amniótico caindo sobre meus peitos e abdômen. Você adorava as curvas e os oblíquos acentuados dessa minha região.   Havia apenas um de nós, como fruto da conjugação verbal perpetrada mais que perfeita.

Tornei. E então, gritei em um sussurro amaldiçoado, de tão reprimido. 
A alma nasce para a repressão. 

Estava trêmulo. 
Você sem conseguia respirar, assustou-se
Eu, monossilábico, que sou, entonei algo, preocupado.
Rimos abraçados. Encharcados. 
Não tem como, não tem por quê.

Você me chamou de amor; eu disse, "não fala nada"...

Você deixou comigo, as melhoras coisas que poderia ter deixado neste mundo errôneo - e, jurando por Deus, vou guardar essa oportunidade para quando alguém me perguntar sobre você.

Você não pode estar morto.

  

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