Silêncio, Vento e Sabiá

Isso se deu por conta da morte de minha avó. Depois disto, foi só tristeza, ansiedade e medo. Lidar com a morte sob uma ótica tão ampliada e não propositalmente de perto, é simplesmente assustador e você fica atônito, olhando daqui, tudo: aquele amor, a origem das referências de vida, aquelas lembranças todas estando, naquele exato momento, sepultados. 

E quando se fechou a urna e se vedou o mausoléu... silêncio. 

Sim. Podia ser ainda pior. E foi. É de um sentimento jamais experimentado. É novo e, por isso, eu estava tão catatônico. 

Havia um pássaro, acho que se tratava de um “Sabiá”. Ele cantava, fazia das notas musicais, as minhas notas de melancolia. 

Sepultar um ente querido, não é só um ato de dignidade e força. Vai além disso. Não é romântico, não há ânimo, nem vontade de se estar lá. Seria tão melhor um sorvete com todos eles comemorando mais um ano de vida. 

Não estamos preparados para a morte. É uma pena morrer. Lamento muito sobre isto. 

Naquele instante eu passei a ouvir o uivar do vento que vinha ao sul, assim como eu ouvira o conto da Sabiá, que parecia saber acerca do que se tratava aquela cena mórbida e milenar do adeus. 

Sim. Ele sabia. 

Silêncio. Vento e Sabiá

Apenas um silêncio ensurdecedor. Havia acabado. 

A vida acabou e fim. Não teve mais. Não choveu mais, não se viu mais. Não teve o próximo capítulo da novela, não se sentiu o cheio da lavanda recém-passada. Não se ouviu, e nunca mais se ouvirá, a voz, as músicas antigas em tom de saudade daqueles que, em primeiro, partiram. 

Não houve abraço, nem bençãos, muito menos conselhos ou sorrisos de amor. 

Só houve silêncio. 

Talvez só existirá o silêncio.

Nunca mais o mesmo tipo de silêncio. 

Acabou. 

Como a água de uma represa que rompeu: esgotou-se. Foi embora.

Não renasceu - infelizmente. 


Acabou. 

Não a dor,

Nem a saudade. 

E foi “só”, 

Mas será eterno. 

 

 

Com amor. 


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